ANO XVIII Nº 194 JANEIRO | FEVEREIRO DE 2021 "a gente espera do mundo e o mundo espera de nós, um pouco mais de paciência" Lenine PROJETO DE LEI SAÚDE MENTAL DO MÉDICO BSB MÉDICA Deputada Julia Lucy apoia causa médica e coloca seu mandato à disposição da defesa da saúde. Psiquiatras falam sobre a saúde mental dos médicos nesse momento de pandemia e dão dicas de como cuidar. Revista Científica da AMBr ganha novo corpo editorial. Veja como ficou o elenco. pg. 9 pg. 16 pg. 21
Revista Médico em Dia Janeiro | Fevereiro de 2021
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9 Projeto de Lei Deputada Julia Lucy apoia causa médica e coloca seu mandato à disposição da defesa da saúde. 12 16 20 Medicina e Arte Saúde mental do Médico Carnaval Dublin, a charmosa capital da Irlanda, também é referência quando o assunto é medicina. Psiquiatras falam sobre a saúde mental dos médicos nesse momento de pandemia e dão dicas de como cuidar. Recordar é viver... Encante-se com fotos de antigos carnavais dos nossos associados. 27 Vocabulário Médico Poesia Cura 39 Crônica 35 Revista Médico em Dia 36 29 4 Celebração PEC 40 Cinema Janeiro | Fevereiro de 2021
Acerca das recentes declarações de entidades médicas do Distrito Federal sobre o decreto governamental instituído pelo Governador Ibaneis Rocha e das consequentes manifestações, a Associação Médica de Brasília assim expõe: A iniciativa do Conselho Regional de Medicina do DF ao se manifestar contrário ao lockdown, nada mais é que um reflexo de apelos contundentes de médicos, muitos desses, carregados de aflição diante de cada anúncio de paralisação das atividades laborativas. E por duas sólidas e inegáveis razões: 1. Em maior ou menor grau, porque impactam intensamente sobre o ritmo econômico do país, provocando queda flagrante nos rendimentos, afligindo ainda mais um número incontável de colegas com suas clínicas, consultórios e agendas esvaziados. Muitos deles dependem exclusivamente de suas atividades liberais. 2. A colocação, em segundo plano, de tratamentos de outras doenças agressivas, forma um cenário tão ou mais devastador, inviabilizando a atenção precoce e diminuindo as chances de cura da população. Sem tomar partido contra ou a favor do Decreto, se nada mais houvesse a apontar, esses aspectos já seriam mais que suficientes para justificar o posicionamento dos que se manifestam contra o lockdown. Do outro lado, igualmente merecedores de respeito, estão os colegas que endossam o confinamento geral, como medida indispensável contra o avanço da COVID 19. Diariamente as entidades médicas são incitadas a se posicionarem em favor de uma ou outra corrente. Ninguém arrefece. Mas, acreditem, da mesma forma que nos chegam os manifestos em favor do FIQUE EM CASA, para nós acorrem apelos aflitos dos que não têm como parar de trabalhar. Isso sem falar nos que não estão sendo impactados nem por um argumento, nem por outro. Neste terceiro grupo estão, normalmente, colegas que não se impressionam tanto com os alarmes do vírus e querem, por exemplo, praticar seus esportes e tocar pra frente suas atividades profissionais, sociais e recreativas. Os manifestos trazem argumentos científicos e, sobretudo, inegavelmente, políticos. Vê-se, pois, que não é tarefa fácil, nem simples, buscar o consenso. Todo esse pandemônio ainda tem agravantes. O tempo inteiro a classe médica sofre ameaças sutis ou robustas nas casas legislativas, obrigando as entidades a uma vigilância diuturna. Para dar um exemplo: Revista Médico em Dia Janeiro | Fevereiro de 2021 5
- Diretor de Assuntos com a Comunidade, para a Câmara Legislativa do DF. Por lá, urdia um projeto de lei propondo, a grosso modo dizendo, quase que a eternidade na gratuidade dos retornos às consultas médicas. O PL 1240/20, de autoria do Dep Jorge Viana já tinha passado por duas comissões e, aproveitando o advento do carnaval, fatalmente seria levado a plenário e aprovado. Cairia como mel para as operadoras de Planos de Saúde e para a população, sem que esta última, sofrida que é, pudesse compreender o desdobramento desastroso da medida. Aproveitando o apoio da Deputada Julia Lucy, que decidiu ser voz discordante da proposta, a AMBr, o CRMDF, Sindmédico e a Academia de Medicina de Brasília se mobilizaram para, numa conversa franca, clara e com sólidas argumentações, pedir ao autor que recuasse nas suas intenções. O apelo foi acatado pelo parlamentar. O próprio deputado enviou às entidades o comunicado de sua decisão. Felizmente a tempo de podermos informar aqui na revista e agradece-lo pela retirada da proposta. Voltando ao tema da COVID, outro drama diariamente nos bate à porta ou aos celulares: a legítima inconformidade dos colegas que ainda não conseguiram ser vacinados, mormente os da iniciativa privada, mas que seguem, do mesmo jeito, lidando com pessoas contaminadas e desafogando as filas dos hospitais. A desolação e desencanto dos colegas diante da evidência de não serem considerados nas prioridades de vacinação, nos chegam a todo tempo. Com essa demanda temos nos manifestado regiamente junto às autoridades de saúde, inclusive propondo que a própria AMBr, por suas instalações limpas, ordeiras e espaçosas, fossem circunstancialmente transformadas em um POSTO DE VACINA primeiro para todos os médicos e, a seguir, demais profissionais de saúde e população do Distrito Federal, inclusive com as entidades médicas assumindo os custos dessa logística. A oferta e o apelo da categoria não parecem, até agora, ter comovido o governo local, que em um primeiro momento, recusou a oferta. As tratativas são quase que diárias. Temos sempre a ponderação, no entanto, de não ignorar que o clamor pela proteção é mundial. E que outros segmentos da sociedade bradam por prioridade. Parece até mote para o dito popular: "na casa onde falta o pão, todos gritam e ninguém tem razão". Ou ainda: "se a farinha é pouca, meu pirão primeiro". É impossível não questionar, porém, a precipitação com que leitos e outras estruturas de tratamento da COVID 19 foram desmontadas em todo o país, inclusive aqui no Distrito Federal, prevalecendo aí as escolhas de Governadores e Prefeitos. De todo modo a AMBr tem respeitado com fidelidade as ordens do governo local. Inclusive a flexibilização de uso dos espaços sociais e recreativos de nossa associação - também destacada nessa edição - deu-se estritamente nos limites permitidos. E assim seguiremos. Seguiremos também respeitando e recomendando as boas práticas de higiene pessoal, uso de máscara, o distanciamento mínimo e outras proteções plausíveis. Chamamos atenção para o especial sobre a saúde mental dos médicos. Cansaço, desalento, excesso de obrigações e queda nos rendimentos são pontos aflitivos. Por fim, a capa desta edição, retrata uma homenagem e um tributo que as entidades médicas do DF fazem aos cidadãos brasileiros, aos médicos e demais profissionais de saúde que sucumbiram à COVID 19 e àqueles que bravamente lutam contra a doença. Um forte abraço! Ognev Cosac 6 Revista Médico em Dia Janeiro | Fevereiro de 2021
VAMOS NOS REINVENTAR ENQUANTO MÉDICOS Trago para reflexão três movimentos que precisam ser levados em conta neste momento da realidade cotidiana dos médicos, sobretudo aqui no Distrito Federal. O primeiro movimento diz respeito à melhora da remuneração, por meio de uma ação junto às operadoras de planos de saúde e à Agência Nacional de Saúde (ANS). É um espaço que precisa ser ocupado imediatamente. A classe médica deve discutir melhores critérios para uma justa remuneração. É fundamental a inclusão da hierarquização dos serviços prestados como critério. Precisamos propor a inclusão de outros modelos além do que é utilizado hoje, levando em conta, por exemplo, o pagamento por trabalho realizado. Nos momentos de crise como este que vivemos em função da Covid-19, registramos uma diminuição significativa da atividade privada nos consultórios médicos das diversas especialidades que representamos. É hora de repensarmos e de nos reinventar, discutindo as políticas de remuneração do trabalho desse profissional. Não esqueçam que só uma remuneração justa dignifica o trabalho de qualquer pessoa, sobretudo o do médico. O segundo eixo onde nós, médicos, precisamos nos reinventar é a união e a pressão que precisamos fazer sobre as autoridades de saúde pública e sobre os políticos aqui do Distrito Federal. É inadmissível que não tenhamos um projeto de vacinação dos médicos que atuam nos serviços privados, abrangendo os de retaguarda dos serviços públicos. Não desmereço outros grupos classificados como prioritários, certamente considerados como necessários e fundamentais na política de vacinação. Isso não impede nossa reivindicação. Nós estamos atendendo, internando, operando, cuidando e curando pessoas com e sem Covid, nos surpreendendo ao saber, tempos depois, que alguns desses pacientes esteve contaminado. Quantos de nós não passamos por isso nos últimos meses. O terceiro eixo da nossa reinvenção diz respeito à formação. Não existe uma boa assistência sem uma boa formação. A Associação Médica Brasileira é a guardiã das especialidades médicas. Não podemos nos omitir na tentativa de desmonte que está em curso no Hospital de Base. A secretaria de Saúde do Distrito Federal e o Instituto de Gestão (IGES-DF) precisam estar alinhados com as necessidades da cidade. Não interessa ao Distrito Federal o desmonte do Hospital de Base. Não interessa ao Brasil. Ali temos 49 programas de residência médica. Formamos especialistas em alta complexidade e em trauma. Durante o mês de fevereiro e início de março, testemunhamos um funesto espetáculo de idas e vindas, mandos e desmandos, entre entidades que deveriam cuidar do nosso maior bem da saúde pública do Distrito Federal, que se chama Hospital de Base. Houve uma pressão das entidades médicas, dos sindicatos, da mídia e da população em geral contra essa barbaridade. Por fim, o Tribunal de Contas do DF, numa sessão histórica, tomou decisão corajosa e impôs um pouco de ordem nesta demanda da Saúde Pública do DF com os trabalhadores estatutários do Hospital de Base. Remuneração justa, vacinação do pessoal médico e formação eficiente, com o salvamento das entidades de ponta, são temas que trago à nossa reflexão coletiva. Reconheço que vivemos momento dramático, no qual os debates estão superados pelas emergências, mas precisamos reagir. Dignidade é o que reivindicamos. Defendemos o reconhecimento da nossa função, para podermos cumprir nossa missão ainda melhor. DIOGO MENDES Diretor de Comunicação Revista Médico em Dia Janeiro | Fevereiro de 2021 7
REUNIÕES EM TEMPOS DE PANDEMIA Mesmo com a pandemia do Coronavírus, a diretoria da AMBr mantém as reuniões quinzenais. São nelas que os representantes da Associação Médica de Brasília discutem sobre assuntos relacionados à saúde, aos serviços prestados pela AMBr, às decisões administrativas, entre outros. CONCURSO: QUE NOME TERÁ? Uma obra de arte tomou conta da entrada da Associação Médica de Brasília. A escultura, toda feita com sucata, é uma homenagem a todos os brasileiros vítimas do Coronavírus, os médicos e todos os profissionais de saúde que diariamente arriscam suas vidas para cuidar do próximo. A escultura é assinada por um conhecido artista: Zakeu Vitor. E para a escolha do nome, a AMBr lança o concurso que premiará aquele que sugerir o título mais criativo. Veja as regras: Quem pode participar? Qualquer pessoa O nome pode ter quantas palavras? Até 4 palavras Qual será o prêmio? Dinheiro (valor a definir) Como participar? Basta se inscrever até o dia 30 de abril Resultado? A comissão julgadora será composta por 2 representantes de cada entidade médica (AMBr, Sindicato dos Médicos, Conselho Regional de Medicina e Academia de Medicina de Brasília). 8 Revista Médico em Dia Janeiro | Fevereiro de 2021
DEPUTADA APOIA CAUSA MÉDICA NO DF Um Projeto de Lei mobilizou a classe médica do Distrito Federal. Se trata do PL 1240/20, de autoria do deputado Jorge Viana, que tinha como proposta a alteração na cobrança de honorários médicos. Entidades representativas como a Associação Médica de Brasília, Sindicato dos Médicos, Conselho Regional de Medicina e a Academia de Medicina acompanharam de perto o desenrolar do Projeto. Para tratar deste e outros assuntos relacionados à defesa da saúde, a AMBr recebeu, na tarde do dia 24 de fevereiro, a Deputada Distrital Julia Lucy (Novo). A parlamentar, que abraçou a causa, acompanhou de perto o desenrolar do projeto. Para ela, a proposta embora tivesse uma intenção positiva, deveria ser retirada de pauta, já que atingiria negativamente pacientes e a classe médica. De acordo com Julia Lucy, a relação do paciente com o médico é a mesma de um cliente e um fornecedor de serviço e eles devem ser os responsáveis pela definição de valores: “Sou defensora da liberdade, liberdade no sentido amplo, inclusive econômica. Ninguém melhor que as partes para definirem preços. É uma atividade liberal. Não se pode imobilizar essa relação com exigências legais”, considera. A parlamentar acredita ainda que interferências vindas do Estado com objetivo de regular preço, regular mercado, resultam em uma série de externalidades negativas, prejudiciais aos consumidores. VACINA PARA TODOS DA CATEGORIA Uma das lutas engajadas pela deputada Julia Lucy trata da vacinação de todos os médicos, sem discriminação. Atualmente, estão como prioritários somente os profissionais da linha de frente no combate ao coronavírus. No entanto, a classe reivindica que os médicos de consultórios e outras áreas também sejam priorizados, já que continuam com seus consultórios funcionando. “Já reivindiquei essa situação junto à Secretaria de Saúde há algumas semanas. Indiquei essa situação expondo exatamente a impossibilidade de classificar os médicos. Todos atendem a pacientes. Não vacinando os médicos estamos colocando todo mundo em risco”, considera. A deputada também defende que as entidades da classe tenham o direito de adquirir a vacina para assim vacinarem os médicos e finaliza: “Quero que os médicos saibam que, hoje, na Câmara Distrital, há um mandato atento às necessidades voltadas para a defesa da saúde”. *Antes do fechamento desta edição, o Deputado Jorge Viana enviou às entidades o comunicado de que a proposta já foi retirada de pauta. Revista Médico em Dia Janeiro | Fevereiro de 2021 9
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