O DESEMBARQUE - n.º 54 - junho de 2025 - https://associacaofuzileiros-afz.pt
índice Reconhecimento Reconhecimento Instituicional Apresentação de cumprimentos ao Chefe do Estado-Maior da Armada Revista n.º 54 - junho 2025 Propriedade Associação de Fuzileiros Rua Miguel Paes, 25 - 1.º Esq. 2830-356 Barreiro Tel.: 212 060 079 - Telem.: 927 979 461 email: afuzileiros@gmail.com http://associacaofuzileiros-afz.pt Edição e Redação Direção da Associação de Fuzileiros Diretor Carlos Teixeira Moreira Edição e Coordenação José Cabrita Afonso Brandão Secretariado Ana Duarte email da Revista revistaodesembarque@gmail.com Colaboradores deste número Corpo de Fuzileiros Delegações de Juromenha/Elvas, Douro Litoral, Minho, Trás-os-Montes Núcleo de Fuzileiros Motociclistas Rádio Filhos da Escola Victor Louro - Ricardo Rodrigues Morais Rodney Lisboa - José da Silva Rebelo António Silva Ribeiro - Seram Lobato António Caldeira Couto - Santana - Silva Mendes José Manuel Pedras - Euclides Cavaco Contra-capa Afonso Brandão 5 Dia do Fuzileiro Era Abril e eu estive lá Publicação periódica da Associação de Fuzileiros 2 6 Editorial 7 Corpo de Fuzileiros Comemorações do Dia do Corpo de Fuzileiros 2025 A nossa “Casa Mãe” viu chegar um novo comandante 8 12 Ser Fuzileiro O orgulho de um Fuzileiro, que cuida da saúde… Fuzileiro e Artesão de Ourivesaria 14 16 Associação de Fuzileiros 48.º Aniversário da AFZ e Assembleia Geral Ordinária 17 Dia da Marinha Dia da Marinha - Viana do Castelo 2025 20 Crónicas A Sociedade do Relâmpago A paz pela força Pioneiros da Lumbala Velha 22 25 26 Eventos Conferência A PIDE e a Guerra Colonial Retribuição de cumprimentos do Clube Militar Naval Tomada de posse dos órgãos Sociais do Clube de Praças da Armada Lançamento do Livro “Rua Miguel Pais - a Génese do Operariado no Barreiro” Dia do Combatente e 107.º Aniversário da Batalha de La Lys Os 55 Anos do DFE 12 que nomadizou pela Guiné entre 1970 e 1971 JACARÉ - Um símbolo com quase 55 anos Convívio da Companhia N.º 2 de Fuzileiros 41.º Aniversário da Delegação N.º 1 (Feijó) do Clube do Sargento da Armada 40.º Aniversário da Escola de Maio de 1985 Convívio da Companhia de Fuzileiros N.º 7 - Angola 1970/72 5.as Jornadas de Apoio Médico, Psicológico e Social Concerto do Coro Polifónico do Clube do Sargento da Armada Almoço convívio do DFE9 Moçambique 71/73 27 28 28 29 29 30 31 33 34 35 36 37 38 39 Delegações e Núcleos Delegação de Fuzileiros de Juromenha / Elvas - DFZJE Delegação de Fuzileiros do Douro Litoral - DFZDL Delegação de Fuzileiros do Minho - DFZM Delegação de Fuzileiros de Trás-os-Montes - DFZTOM Núcleo de Fuzileiros Motociclistas - NFZM 40 44 50 53 54 Tiragem 1.750 exemplares Cultura Canto a Portugal Rádio Filhos da Escola 49 49 Depósito Legal 376343/14 ISBN 2183-2889 Desporto Sabia que... 56 Obituário 57 Novos Sócios 57 Foto da Capa Vicente Arrifes Produção Gráca Tipograa Lobão, Lda. No respeito por diferentes opções ortográcas mantemos os textos, aqui publicados, na versão original do autor. O DESEMBARQUE - n.º 54 - junho de 2025 - https://associacaofuzileiros-afz.pt 1
Neste período que mediou entre a entrada em produção da Edição n.º 53 d'O Desembarque e a que agora chega a todos os sócios foi também o momento de dar continuidade ao reconhecimento público daqueles que ao longo da vida da Associação de Fuzileiros (AFZ) vêm contribuído, de forma denodada, silenciosa e ecaz para que os seus ns estatutários sejam cumpridos. Integrado no programa do 48.º Aniversário da AFZ e no XXI Aniversário da Delegação de Fuzileiros de Juromenha/Elvas (DFZJE) foram realizadas as cerimónias de agraciamento com a Qualidade de Sócio Honorário ao Presidente da Câmara Municipal do Alandroal, Dr. João Maria Aranha Grilo e da Qualidade de Sócios de Mérito aos sócios José Alves, que entretanto realizou o seu último desembarque e que foi representado pela viúva, Dona Rosa Alves e pela sua lha Helga Alves, Licínio Jesus Algarvio Morgado, Luís Miguel de Matos Cortes Picciochi, Ana Brígida Fernandes Duarte e João Domingos Vieira Guerreiro sendo-lhes ainda imposta a Medalha de Mérito da AFZ (MMAFZ), e dando-se assim cumprimento a uma das Linhas essenciais do Programa de Ação, para o Biénio de 2024/26. O Dr. João Grilo exerce o cargo de Presidente do Executivo camarário do Município do Alandroal desde 2009, concelho onde a DFZJE possui a sede, em Juromenha, “Sentinela do Guadiana”, pacata aldeia alentejana, a 200 quilómetros do mar. Em resultado das suas iniciativas a autarquia vem contribuindo decisivamente para que a cooperação institucional envolvendo a AFZ, através da DFZJE, na persecução dos objetivos de promoção do desenvolvimento, em harmonia com o ambiente e a sustentabilidade, perante uma realidade de declínio e de envelhecimento da geograa humana, seja uma marca para o futuro. A sua presença nos diversos eventos organizados pela DFZJE é um sinal claro da importância institucional que a autarquia dá a esta realidade cívica, mas também a sua marca pessoal de liderança de proximidade e apoio. Quando em junho de 2019 a Direção da DFZJE tomou a iniciativa, em articulação com a Direção Nacional da AFZ, de remeter uma proposta para ser edicado um “Memorial” para homenagear todos os Marinheiros e Fuzileiros do Concelho que, ao longo de décadas, serviram e servem Portugal na Marinha Portuguesa o 2 assunto foi de imediato levado a reunião do executivo camarário e aprovado. E com a mesma determinação que foi aprovado o seu executivo tomou a seu encargo a responsabilidade de o conceber e executar em permanente articulação e cooperação com a DFZJE e a Marinha. Para marcar esta partilha de esforços e de visão de futuro a data da “Inauguração do Mural em homenagem à Marinha de Guerra Portuguesa” foi escolhida para coincidir com a comemoração do XIX Aniversário da DFZJE, a 6 de maio de 2023 e o local selecionado para a sua edicação, onde as novas gerações chegam ou partem do seu percurso escolar diário, cando patente a importância dada, em conjunto aos que, com sacrifício, contribuem e contribuíram para um Portugal melhor. Importa contudo que que gravada a relevância da liderança atenta e segura do Dr. João Grilo, nesta cooperação, que se avalia como mais profunda do que aquela que olhares menos atentos possam perscrutar, dos apoios, à presença em eventos mútuos. O convite para inclusão da AFZ na assinatura do Protocolo de Parceria, a 15 de setembro de 2022, destinado à implementação e funcionamento do conceito de Estação Náutica de Alandroal, visando a sua promoção enquanto destino Náutico, que, entretanto, a 2 de março de 2023 passou a integrar a Rede de estações Náuticas de Portugal, a mesma tomou uma natureza orgânica, de complementaridade, para o bem da comunidade e de grande signicado para a promoção da maritimidade, fator que se identica como muito relevante para a defesa nacional. O camarada e sócio José Moreira Alves, que, entretanto a 3 de novembro do ano passado da lei da vida se libertou, foi um dos que, carinhosamente se intitulam como “os obreiros da AFZ”, no apoio à mudança da Sede da AFZ, da Quinta da Lomba para as atuais instalações, na Rua Miguel Paes, n.º 25, no Barreiro, ao desenvolveram laboriosa e denodadamente a de limpeza do espaço degradado, elaboração do projeto de remodelação, reforço da estrutura e deram início às obras de recuperação das instalações, tendo-se começado pela atual área administrativa, no primeiro piso a m de possibilitar, no mais curto prazo, o funcionamento dos Órgãos Sociais e a instalação do Secretariado. O seu trabalho, sem esperar recompensa, contribuiu, de forma signicativa para a ar- O DESEMBARQUE - n.º 54 - junho de 2025 - https://associacaofuzileiros-afz.pt
mação e a dinâmica da AFZ enquanto associação de referência, trouxe-lhe um maior benefício e honra pública e que hoje é um orgulho para todos os associados e para quem nos visita e usufruem das nossas instalações. Apesar de a Juromenha se encontrar localizada a 200 quilómetros do mar, perante uma realidade demográca desaadora, em que de um milhar de habitantes em 1970 se passou para cerca de uma centena em 2011 a inquebrantável tenacidade do nosso sócio, desde 2002, Licínio Jesus Algarvio Morgado, não deixou que o tempo e a distância do mar esmorecesse aquele outro tempo vivido ao serviço da Marinha, no mar e a partir do mar, ostentando a boina de fuzileiro, que marcou, para sempre, a sua vida e a vida daqueles alentejanos que o vem acompanhando. Assim, há vinte anos, a 29 de maio de 2004, liderou vontades e integrou a lista da Comissão Instaladora, como Presidente da Direção, destinada a formalizar os órgãos sociais do então Núcleo de Fuzileiros da Juromenha - Alentejo, noticando na mesma ocasião, a AFZ, o desejo de serem acolhidos como um dos seus Núcleos. Acompanhou a evolução regulamentar da AFZ e a 29 de dezembro de 2010 é formalizada a criação da DFZJE, fruto daquela nova regulamentação e da realidade geográca associada à sua localização, na fronteira dos Concelhos do Alandroal, a que pertence, com o de Elvas, bem como em resultado da forte ligação afetiva e dos apoios que prestam e que recebem de ambas as autarquias. Esta ligação afetiva, à sua terra Natal, às suas gentes e aos Fuzileiros, da Marinha e a sua determinação, estiveram na origem da edicação de dois monumentos que marcam a presença da Marinha no Alentejo profundo, um em Elvas, inaugurado a 27 de maio de 2017 e outro no Alandroal, inaugurado a 6 de maio de 2023 e o envolvimento da AFZ no Protocolo de Parceria para a estação náutica do Alandroal. A relevância destas iniciativas com o seu valor imaterial da divulgação que, tal como as restantes Delegações e Núcleos da AFZ, é feita dos fuzileiros e da Marinha em geral por esse país fora, será difícil de contabilizar, mas tal não os esmorece. Onde quer que apareçam os membros da DFZJE, com a sua boina ou com o seu boné branco, levam consigo a melhor imagem da Marinha, como são exemplo os desles do Dia de Portugal, do Dia da Marinha e do Dia do Fuzileiro, assim como eventos de cariz cultural nas localidades vizinhas - feira de S. Mateus e procissão dos pendões em Elvas e romaria à Virgem do Loreto, na Vila de Higuera de Vargas. A presença da DFZJE nos aniversários das restantes Delegações da AFZ é um sinal da sua vontade inquebrantável de mostrar que juntos se vai mais longe. E é também dessa forma que à volta da DFZJE, vindos de várias regiões do país, se juntam mais de uma centena de convivas, celebrando a camaradagem, que se contribui para a divulgação da realidade cultural das gentes alentejanas na tradicional matança do porco. A par desta ligação estreita com as autarquias onde se insere a sua atividade realça-se ainda a atitude eclética que o Licínio Morgado ajudou a incorporar na DFZJE ao manterem um estreito contato com a Associação de Paraquedistas do Alto-Alentejo, a Asociación de Veteranos “Base Aérea de Talavera la Real”, de Espanha, entre outras O antigo Comandante do Corpo de Fuzileiros, Contra-almirante Luís Miguel de Matos Cortes Picciochi, nosso sócio desde 10 de setembro de 2008, viu a sua sensibilidade para os valores imateriais serem exaltadas com a tomada de decisões que continuarão a marcar a AFZ e as novas gerações de Fuzileiros. Tem primazia de referência, neste âmbito, o estabelecimento do Dia do Fuzileiro e com ele a decisão de o mesmo ser organizado e realizado em estreita colaboração com a AFZ. Já no que diz respeito à mística de ser Fuzileiro a sua iniciativa de ser criado o símbolo de Fuzileiro, de modelo idêntico ao do distintivo de especialização em Fuzileiro Especial, para ociais, irá perdurar e marcar, pelo futuro fora, todas as gerações de Fuzileiros formados após a extinção daquela especialização incutindo-lhes aquele espírito e associando-lhes o orgulho da história a ele associado. Integrando a DFZJE, desde que terminou o serviço ativo, a 5 de setembro de 2014, e ainda como Comandante do Corpo de Fuzileiros marcou presença no 1.º Aniversário desta delegação, que é a primeira emanação prática da estrutura regional que a AFZ adotou desde a sua criação em 1977. A sua presença assídua nos aniversários de todas as Delegações e nos eventos da AFZ revela um padrão de empenho em prol dos Fuzileiros e da AFZ que, pela valorização e pelo prestígio que transmite, nunca é demais sublinhar, realçar e enaltecer. O DESEMBARQUE - n.º 54 - junho de 2025 - https://associacaofuzileiros-afz.pt 3
Ser humano que é reconhecido pelo seu elevado civismo, dinamismo e tenacidade, muito participativo e dinâmico e que se mostra sempre disponível para colaborar com a AFZ e a DFZJE, seja na recolha e publicação das memórias históricas referente à génese desta Delegação e da DFZDL, seja na iniciativa de publicação do Anuário dos Fuzileiros, seja na apresentação de sugestão para se valorizar as gerações familiares de Fuzileiros, seja, ainda, na representação protocolar em eventos. O bom nome e a imagem da AFZ estão intimamente ligados à forma como os Serviços Centrais norteiam o seu trabalho diário, designadamente a afabilidade e a competência revelada no tratamento com os Sócios e com as entidades com quem nos relacionamos, sendo para tal relevante um grande rigor, empenho, espírito de iniciativa e de disponibilidade sendo a Sócia Ana Brígida Fernandes Duar te o exemplo vivo desses valores e dessas competências. Nunca será de mais reconhecer que a Ana Duarte vem desempenhando o seu trabalho, de alto valor, com uma dedicação inquebrantável, dando muito do seu tempo para que tudo corra da melhor forma e hoje em dia é considerada o braço direito de todos os Membros da Direção Nacional e reconhecida por todos os Sócios, pela forma afável e carinhosa como está sempre pronta a colaborar e a encontrar soluções para os apoiar. Além do trabalho de secretariado, que integra desde 9 de outubro de 2009, a Ana Duarte, participa em todas as atividades AFZ, que envolvem protocolo ou necessidades de natureza administrativa, sempre pronta a ajudar no que for preciso, com um elevado sentido do dever e de dedicação e um sorriso no rosto, revelando-se um pilar no funcionamento da estrutura administrativa, dos afetos e da credibilidade funcional. Integrando Serviços de Secretariado Nacional e de Finanças e Contabilidade da AFZ desde 2 de janeiro de 2011, a partir de nais de 2023, na sequência de situação particularmente exigente, designadamente a renúncia extemporânea do cargo de Tesoureiro por parte de um membro da Direção Nacional, por razões de apoio familiar, aceitou a conança nela depositada e assumiu, cumulativamente, as funções de Chea do Serviço de Finanças e Contabilidade, sob a responsabilidade de um dos Vice-presidentes. O Sócio e Vice-Presidente da Direção Nacional, sargento-mor 4 (SMOR) FZE João Domingos Vieira Guerreiro, vem desenvolvendo denodadamente relevantes atividades de apoio ao funcionamento da AFZ na edicação e apoio à constante melhoria de bases de dados que gerem os associados, o património e a faturação, utilizada pelo Secretariado Nacional, que possibilita a fácil consulta e elaboração de relatórios com informação estatística relevante para a tomada de decisão. É ainda ele que assegura a gestão integral, técnica e funcional, das páginas da internet (AFZ e do Restaurante) e as publicações no Facebook (FB), que tem tido um crescimento exponencial de interações, nos tempos recentes, bem como o encaminhamento da correspondência recebida destes dois interfaces de comunicação com os Sócios e com todos os Fuzileiros para o Secretariado; Entre as responsabilidades de gestão técnica daquelas plataformas tecnológicas é a tomada de ação referente à informação gerada e alerta de aniversário que a partir daí, garantindo a proteção de dados, emite um SMS para os Sócios a felicitá-los em nome da AFZ, contribuindo desta forma para reforçar a ligação afetiva desta com os seus associados, uma das medidas do programa de ação da Direção Nacional. Todas estas atividades têm sido realizadas pro bono e a eventual opção de contratualização a entidade externa poderia ter um ónus muito signicativo para as nanças da AFZ A par destas atividades relevantes e nem sempre percecionáveis o SMOR FZE João Guerreiro assegura um comprometimento efetivo e afetivo com o Pelotão de Veteranos da AFZ, participando nos eventos em que o mesmo é envolvido e desempenhando funções de coordenação e tutela na organização e aprontamento do Bloco de Guiões das antigas unidades de fuzileiros, da AFZ e das suas Delegações e Núcleos no cerimonial de homenagem aos fuzileiros e sócios da AFZ falecidos inseridos nos Aniversários da AFZ, no Dia do Fuzileiro e no Dia da Marinha. Com sua ação, diária, o Sócio João Guerreiro vem contribuindo para a divulgação da AFZ e dessa forma participa ativamente no desenvolvimento das ações destinadas a incentivar os Fuzileiros em geral, ainda não sócios, a integrarem a AFZ, ajudando a cimentar a segunda parte do nosso lema − Fuzileiro para sempre! A Comissão Redatorial O DESEMBARQUE - n.º 54 - junho de 2025 - https://associacaofuzileiros-afz.pt
Apresentação de cumprimentos ao Chefe do Estado-Maior da Armada No dia 29 de abril a Associação de Fuzileiros (AFZ), através dos titulares dos seus Órgãos Sociais, o Presidente da Mesa da Assembleia Geral, Capitão-de-mar-e-guerra (CMG) FZE, Hernâni Vidal de Rezende, os Presidente e Vice-presidente da Direção Nacional, Carlos Moreira e Sargento-mor FZE João Vieira Guerreiro, o Presidente do Conselho Fiscal, CMG FZ, José António Rocha e Abreu e o Presidente do Conselho de Veteranos, CMG FZE, António Carreiro e Silva apresentaram cumprimentos a Sua Excelência o Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional, Almirante Jorge Nobre de Sousa, reiterando os votos de bons ventos, mares calmos e águas safas para o seu mandato na liderança da Marinha. A oportunidade serviu também para, em primeiro lugar e de viva voz, ser armada a disponibilidade da AFZ e das suas Delegações e Núcleos para contribuir para a missão da Marinha, naquilo que for entendido que poderemos ser úteis. Em segundo lugar, mas não menos importante para o reconhecimento e agradecer, na sua pessoa, o apoio que a Marinha tem prestado às atividades que a AFZ e as suas Delegações e Núcleos vêm desenvolvendo, pelo país e que de outra forma os desaos seriam incomensuráveis, em particular, na difusão d'O Desembarque, na autorização para a elaboração do Anuário dos Fuzileiros e, com botes de Zebro III, na realização de atividades nos rios Douro, Arade e Tua. O Almirante Jorge Nobre de Sousa inteirou-se sobre a implementação do Estatuto do Antigo Combatente e felicitou a AFZ pelo que representa para a Marinha e pelo trabalho de natureza social e de armação da maritimidade que desenvolve e realçou a vontade de continuar a apoiar, dentro do possível, a «Família Militar Naval» e desejou felicidades aos Órgãos Sociais. A terminar foi manifestado que seria uma honra para todos os Fuzileiros ter o Comandante da Marinha no Dia do Fuzileiro. O DESEMBARQUE - n.º 54 - junho de 2025 - https://associacaofuzileiros-afz.pt A Comissão Redatorial 5
Era Abril e eu estive lá Começo por registar que só nos conhecemos já nos extremos da casa dos vinte anos, ambos no curso de Fuzileiros de 1972: um, no seu processo de descoberta de um mundo estranho às suas origens rústicas; outro, já em pleno exercício de opções políticas comprometidas. E portanto com olhares distintos da mesma realidade que as circunstâncias nos zeram viver em comum. Um, empenhado numa carreira militar exemplar; outro, com a preocupação de salvar a pele acima de tudo, sem dar nas vistas, mas também de cumprir o papel de contribuir para a consciencialização contra a guerra colonial para que se preparavam. O “serviço militar obrigatório” teve consequências extremamente positivas no Portugal pobre do Estado Novo: foi para uma grande parte dos mancebos a oportunidade de se livrarem do jugo da submissão à pobreza do País rural, que carecia do trabalho dos lhos e lhas para o fornecimento da força de trabalho necessária à agricultura. Era por isso que nas famílias camponesas apenas um dos lhos, geralmente, podia ser dispensado para estudos – quase sempre em seminários católicos, como foi o caso do autor – cando os demais, especialmente as raparigas, agarrados às lides agrícolas. A ida para a tropa era, assim, em muitíssimos casos, a oportunidade de alcançar a libertação do jugo. Como era, para muitíssimos jovens, a oportunidade de, pela primeira vez, tomarem um banho de chuveiro e vestirem roupa não rota… Com as guerras ditas “do Ultramar”, essas vantagens foram contrariadas pelos riscos enormes que envolviam a própria vida. O nosso “serviço militar obrigatório” iniciou-se em 1972, altura em que o País estava em guerra nas colónias. Mesmo assim, ele foi a oportunidade de muitíssimos jovens tomarem contacto em pé de igualdade com gente de outros estratos; e de ouvirem ideias de que tinham estado arredados pelo isolamento a que estavam submetidos. O autor oferece-nos um relato de vida como que um diário. Sem pretensões nem articialismos, desnuda-se perante os leitores – respeita-se a si próprio. É, no meu entender, de saudar a sua iniciativa e franqueza, agora que se comemoram os 50 anos do 25 de Abril! Ao contar-nos o que foi a sua vida na infância rústica do interior da Beira Baixa, e as razões por que se atirou para a migração para a grande cidade, o autor conrma os traços mais marcantes de um regime que apostava no poucochinho como via para a submissão das pessoas e das mentes. E de como as gentes reagiam por necessidade imperiosa de sobrevivência através da emigração, quer para o litoral, quer para o estrangeiro. Foi desde os inícios das guerras coloniais que o País conheceu o grande despovoamento, alimentado pelo sofrimento das famílias separadas dos seus membros que partiam. A consciência política, quando a ganharam, veio depois, em contacto com outras realidades sociais e económicas. A guerra foi, pode dizer-se, a grande alavanca para o desmoronamento da ditadura. Porque o País se foi esvaziando da sua Juventude; porque os campos foram deixando de ser cultivados; porque os pais foram sentindo a injustiça de carem sem os seus meninos; porque as famílias foram gerando, ainda que inconscientemente, a revolta por verem voltar os seus, estropiados ou dentro de caixões; porque os que tiveram de viver a guerra foram confrontados com situações atrozes que os zeram compreender os ditos de muitos ociais e sargentos milicianos contra a ditadura. E os militares de carreira, confrontados com estas realidades que tinham de enquadrar ou comandar; e com os tais ditos dos sargentos e ociais milicianos; e com a intuição prossional da inutilidade do esforço de guerra que combatia as aspirações dos 6 António Francisco Caseiro Marques, sócio n.º 1020 Livro disponível para aquisição no Secretariado da AFZ, pelo valor de 15 que lutavam contra nós e levava à perdição o nosso povo e a nossa terra; foram ganhando a determinação de pôr m ao regime do Estado Novo. O autor não foi à guerra, mas cou em contacto com uma parte dessa realidade. E no 25 de Abril foi confrontado com aquilo que nem sabia bem o que era, e muito menos, o que viria a ser. Foi então que esteve face à realidade dos presos políticos em Caxias. E foi também o contacto com os cazal-ribeiros que representavam o regime deposto que a sua revolta se fez sentir: a ostentação da riqueza a provocar os vencedores do golpe, lembrandolhes que eles, os do regime deposto, ali estavam dispostos a desaar… Desao esse que veio a materializar-se meses depois no 28 de Setembro da Maioria Silenciosa, e mais tarde no Verão Quente de 75. O autor acabou por, no exercício das funções prossionais da advocacia, defender, na continuidade do seu patrono, alguns dos implicados na Rede Bombista, que acabaram “absolvidos, por falta de provas”. Pode até ser uma vitória prossional (de que o autor, aliás, justamente não se gaba). Mas é para mim um dos maiores embustes da nossa Democracia, como está profusamente documentado, designadamente no formidável livro de Manuel Carvalho, “Quando Portugal ardeu”. Singelamente revela-nos, também, acontecimentos dos dias do PREC, da vida no Forte de Caxias, do esforço e coragem exigidos a um lho de família pobre para fugir à sina da pobreza. E também como um Homem pode singrar na vida, apesar de tais origens, sem se submeter aos ditames da porcaria, sem trair nem pisar os outros. Este livro dá-nos, de maneira singela, uma versão dos acontecimentos. As versões são interpretações da realidade. As interpretações vivem da formação integral de cada indivíduo. E a Democracia é o regime que, por denição, convive com as diferentes visões do mundo. Não temos de concordar com os outros, para os respeitarmos. Não podemos é tolerar os que, a coberto da democracia, desejam atentar contra ela! E o autor, bem como o escrevedor destas linhas, embora discordem nalguns aspectos, convergem no respeito mútuo e na defesa da Liberdade e da Democracia. Viver com Honra, de cara levantada. Victor Louro, 2.º Ten FZ/RN (21.º CFORN) O DESEMBARQUE - n.º 54 - junho de 2025 - https://associacaofuzileiros-afz.pt
Carlos Teixeira Moreira «Sólidos, rústicos, bravos, humanos… Todos com três metros de altura!» Comandante Alpoim Calvão Preparar, para ser lançada ao mar dos afetos, uma Edição d'O Desembarque é sempre fazer o movimento navio terra de memórias, de celebração dos nossos valores e de nos projectarmos, no futuro, dunas acima, com a nossa reconhecida determinação. Esta Edição não foi diferente apesar desta vez a memória ter ido lá bem atrás, aos nossos primórdios, quando, em boa decisão, o Corpo de Fuzileiros comemorou os seus 404 anos organizando um Workshop em que esse percurso foi lembrado e se exaltou o resultado dos valores, passados de gerações em gerações, independentemente das realidades nacionais onde os mesmos se manifestam. Os nossos irmãos de sangue, os Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, incorporam-nos e foi com um orgulho, difícil de esconder, que se ouviu e presenciou o Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil, almirante de esquadra (FN) Carlos Chagas Vianna Braga sublinhar esse legado e a condecorar o nosso Estandarte Nacional com a Ordem do Mérito Naval, a mais elevada condecoração da Marinha do Brasil como símbolo desse eterno vinculo afetivo que se alarga às duas Marinhas, os dois Estados, por via dos seus Povos que se lança no incremento - de novas áreas de cooperação. Os nossos valores foram celebrados no 48.º Aniversário e no cumprimento dos nossos Estatutos realizando a Assembleia Geral Ordinária, em coesão. Esses mesmos valores foram celebrados no 21.º Aniversário da Delegação de Fuzileiros de Juromenha/Elvas (DFZJE), que este ano teve lugar no Alandroal. Celebramos a camaradagem, a vontade de realizar e de nos projectarmos como associação de atos e de agregação na 3.ª Descida do Rio Douro, organizado pela Delegação de Fuzileiros do Douro Litoral (DFZDL) cujo percurso nal passou sob as seis pontes que integram o Património Mundial pela UNESCO, entre um grande conjunto de encontros de antigos camarada e unidades. Também celebramos os nossos valores reconhecendo quem denodadamente contribuiu, ao longo destes últimos 48 anos para cumprir a AFZ. Esta Edição também se projeta no futuro, dunas acima, lembrando que dia 5 de julho, a nossa Casa Mãe estará de portas ainda mais abertas, para nos acolher, a todos que somos desta família de afetos dos Fuzileiros, para, como venho armando, lavarmos a alma, nos reencontros entre diversas gerações de camaradas e sentir-se em cada recanto, de cada um de nós, o orgulho de quem é Fuzileiro. Nós, as nossas famílias e os nossos amigos. É também reconfortante sentir que este projeto do Dia do Fuzileiro também faz vibrar de vontade de bem fazer todos os que prestam serviço no Corpo de Fuzileiros, na Marinha e em particular na guarnição da Escola de Fuzileiros. O DESEMBARQUE - n.º 54 - junho de 2025 - https://associacaofuzileiros-afz.pt 7
Fleepit Digital © 2021